terça-feira, 3 de agosto de 2010

UMA IDA AO MOSTEIRO DE TIBÃES






Ressurgiu do abandono de muitos anos, passou pela Reforma e Contra-Reforma e em 1576 assistiu à congregação de S. Bento de Portugal e do Brasil, tornando-se na "Casa-Mãe" de todos os Mosteiros Beneditinos. Refiro-me ao Mosteiro de S. Martinho de Tibães, nas faldas do Monte de S. Gens, ao fundo do qual corre o Rio Cávado.
Dada a ruína em que o Mosteiro se encontrava, os monges de Tibães decidiram erguer novos espaços e aumentarem a área conventual, começando pela Igreja erigida entre 1628 e 1661 no local do primitivo templo românico. Reorganizaram o Claustro do Refeitório e construíram o Claustro do Cemitério em sóbria arcaria toscana. Até 1700 levantaram novas alas em direcção a Poente onde instalaram a Portaria o "Recibo", o Dormitório dos Gerais, a Hospedaria, a Sala do Capítulo e a Livraria (que chegou a ser a mais importante de Entre-Douro-e-Minho. Espaços amplos onde a policromia dos tectos de madeira trabalhados jogava com a cor dos quadros, com os painéis de belíssimos azulejos e o verde dos ferros. Em 1833 um decreto-lei põe fim a este cenário idílico e em 1864 é vendido em hasta pública e adquirido por quem foi incapaz de conservar este fantástico património com uma Cerca de 40 ha. Volta a caír em profundo abandono e ruína até ser comprado, em 1986, pelo Estado português.
A Igreja do Mosteiro de São Martinho de Tibães é considerado um templo grandioso e uma dos maiores marcos da arte barroca em Portugal. O templo que começou maneirista, quer na traça exterior, quer nos primeiros retábulos, acabou por receber muita influência barroca - desde o joanino ao rococó contituindo um conjunto imponente no qual impera a talha dourada e a estatuária policromada. À sua construção e decoração estão associados nomes como Manuel Álvares e André Soares - provavelmente o responsável pela introdução do rococó em Braga, cidade que dista 7km deste local. Os monges souberam rodear-se de bons mestres - desde pedreiros, carpinteiros aos entalhadores, enxambradores e douradores, todos eles nomes ilustres da arte portuguesa dos séculos XVII e XVIII de Entre-Douro-e-Minho, ao mesmo tempo que incentivaram a aprendizagem e a existência de artistas entre os seus membros, como Frei Cipriano da Cruz,(uma personalidade dos barroco seiscentista) Frei José de Santo António de Vilaça, André Soares (escultores) e outros que revestiram de formas e cor o interior da Igreja, Coro e Sacristia com retábulos, imagens, púlpitos e cadeirais, devolvendo, assim, ao Mosteiro a sua função primitiva de escola e centro difusor de técnicas e estéticas.
A Cerca do Mosteiro de Tibães, parte integrante do circuito museológico, na encosta do Monte se S. Gens, virada ao rio Cávado tinha como função a manutenção da sua Comunidade, pois era dela que vinham os legumes, fruta, linho, caça, madeira, forragem para alimentar os animais. E se esta Cerca foi um importante local de trabalho agrícola também o foi como retiro de meditação e lazer.
Nela há que destacar o bonito Escadório, talhado no monte, como que indiciando uma subida aos Céus, encimada pela Capela de S. Filipe, diversas Fontes, Minas de Água, Aquedutos, Caminhos e um grande lago de forma elíptica que por ser um plano de água de dimensões generosas, sombreado pelas ramadas e árvores que o circundam se torna num belíssimo local de fresco e de meditação.
Regressando ao Mosteiro - adquirido pelo Estado português e agora afecto ao IPPAR - tem vindo, finalmente, a ser restaurado e reabilitado, através dos Fundos Comunitários de FEDER.
O Hospício era no séc XVII o espaço monástico onde os hóspedes (na maioria, peregrinos a caminho de Santiago de Compostela) - que não podendo acompanhar os monges no Refeitório - aqui comiam acompanhados pelo Abade.
Segundo a Regra de São Bento «os hóspedes deveriam ser recebidos com todas as honrarias convenientes aos praticantes da fé» e, obviamente, aos peregrinos. Hoje este espaço volta a ser, não o Refeitório, mas o Restaurante «L'Eau Vive» dos hóspedes que lá prenoitam e dos passantes.
O Noviciado, Ala Sul, e o Claustro do Refeitório foram reabilitados e abertos ao público há pouco mais de 2 meses. Servem pequenos-almoços, almoços e jantares e são as Irmãs da Família Internacional «Donum Dei» (que integra 6 irmãs do Perú, Polinésia Francesa e Burkina Faso) que estão incumbidas da restauração, bem como da limpeza e manutenção dos quartos e espaços comuns.
De momento tem 9 celas transformadas em quartos minimalistas mas confortáveis numa das alas recuperadas do convento, uma agradável recepção seguida de uma ampla sala de estar com colunas e volutas.
Tudo o que ali foi recuperado e reabilitado foi, sem dúvida, bem mas ainda há muito a fazer como, por exemplo, a criação de um espaço exterior, num dos claustros, para estar, conversar, ler, tomar uma bebida. Espero que esta pequena falha e outras sejam brevemente colmatadas, já que o Convento o merece e quem o visita ou lá pernoita vai gostar de poder usufruír desse conforto.
A visita guiada à Igreja, Mosteiro e espaços afins vale bem a pena porque é muito esclarecedora.
Tivemos a sorte de chegar e poder assistir, ao fim da tarde, a um concerto de música sacra que teve lugar na belíssima Igreja barroca mas, mesmo sem esse bónus, o Mosteiro de São Martinho de Tibães merece uma visita e uma estadia de um fim-de-semana prolongado para poder vivenciar todos aqueles bonitos espaços, fazer uma ida a Braga, ali mesmo ao lado, outra a Guimarães (nunca é demais visitar estas duas cidades). Guimarães tem para mim um significado particular: quer por ser o berço da nacionalidade, quer por a achar linda e gostar muito de me sentar no seu centro histórico rodeado de arcadas, de visitar a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira ou o Museu Alberto Sampaio onde entre várias maravilhas, podemos admirar o belíssimo loudel que D. João I usou na Batalha de Aljubarrota, e depois da vitória o ofereceu à Nossa Senhora da Oliveira.
Contactos de Tibães: Telf.: + 351 253 282 420
www.hospedariatibaes.com
hospedaria.tibaes@mail.telepac.pt

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